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O fantasma de Lula: Celso Daniel, 20 anos de um crime sem solução

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“Em meu princípio está meu fim.”
(T. S. Eliot)

Em 1914, Franz Kafka escreveu uma novela intitulada “Na Colônia Penal”, que de maneira profética antecipa os horrores dos campos de concentração nazistas e comunistas. Em uma das passagens mais impactantes da narrativa, um chefe da colônia mostra a um visitante uma das torturas que ali se realizavam: os crimes do apenado eram escritos na própria pele do infeliz.

A literatura antecipa a vida. Quando o corpo de Celso Daniel foi encontrado numa estrada de terra em Jequitiba, na Grande São Paulo, com oito perfurações de bala e marcas de tortura, anunciavam-se, de maneira simbólica, todos os crimes cometidos pela organização criminosa que comandaria o País nos anos seguintes. Eu ainda não sabia, mas no cadáver do ex-prefeito petista de Santo André estavam escritos o Mensalão, o Petrolão, a corrupção como método de governo, o financiamento de ditaduras genocidas, a aliança com o narcotráfico internacional, os 70 mil assassinatos por ano, a ruína da educação básica, a sovietização das universidades, o aparelhamento da Igreja, a ruína econômica e moral do País. Ali estava a gênese do abismo — do qual começávamos a sair quando veio a pandemia.

Em 2002, eu ainda tinha ilusões esquerdistas. Mesmo assim, escrevi em minha coluna na época: “Alguma coisa está errada com um país em que o prefeito de uma grande cidade é sequestrado, e assassinado com tiros no rosto e nas costas, e deixado numa estrada de terra”. Eu ainda não enxergava a dimensão das causas do crime, mas logo passei a desconfiar de que havia algo muito errado e sombrio naquela história.

Celso Daniel não é o único morto nessa história. Depois dele, morreram em circunstâncias violentas:
 
1. Dionísio Aquino Severo (sequestrador do ex-prefeito);
2. Sergio Orelha (que acobertou o sequestrador);
3. Otavio Mercier (policial que ligou para o sequestrador na véspera do crime);
4. Antonio Palácio de Oliveira (garçom que serviu Celso Daniel na noite do crime);
5. Paulo Henrique Brito (testemunha da morte do garçom);
6. Iran Moraes Redua (agente funerário que reconheceu o corpo do ex-prefeito);
7. Carlos Delmonte Printes (médico legista do caso);
8. Josimar Ferreira de Oliveira (delegado que registrou a morte do ex-prefeito).

Isso lhe parece um crime comum? Não? Pois as lideranças do PT, desde 2002, insistem que foi apenas um caso de sequestro-relâmpago feito “por engano”. A estranha postura oficial dos caciques petistas talvez possa ser explicada pela existência de um esquema de corrupção na Prefeitura de Santo André, cujo beneficiário último era o PT. Vale lembrar que, ao final, daquele ano, Lula foi eleito presidente da República. Tudo indicava que Celso Daniel seria o seu ministro da Fazenda.

Em novo depoimento, Marcos Valério cita Lula como mandante da morte de Celso Daniel.

Em depoimento dado ao Ministério Público de São Paulo, o empresário Marcos Valério afirma que o ex-presidente Lula foi um dos mandantes do assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel, ocorrido no ano de 2002. O documento foi divulgado na manhã desta sexta-feira (25) pela revista Veja.

Em depoimento dado ao Ministério Público, Valério contou que participou de reunião com o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, em 2003. Nela, ele afirmou que o empresário Ronan Maria Pinto estava chantageando a alta cúpula do Planalto com revelações sobre o assassinato de Celso Daniel. Ele teria pedido que o silêncio de Ronan fosse comprado.

A motivação do crime, segundo Valério, era o fato de que Celso Daniel se comprometeu a pagar pela caravana de Lula durante campanha no Brasil, mas não quis envolver a prefeitura de Santo André em casos de corrupção que só serviriam para enriquecimento pessoal do grupo.

Segundo Valério, ele, Ronan e Delúbio Soares, antigo tesoureiro do PT, participaram da reunião em um hotel de São Paulo. Depois disso, eles acertaram um “empréstimo” de 12 milhões com um banco para comprar o silêncio de Ronan em troca de um contrato de operação da Petrobras.

Antes de fechar a negociação, porém, Ronan teria contado que “não pagaria o pato” sozinho e “afirmou com muita clareza e um modo muito simples que lhe é próprio que iria apontar o presidente Lula como mandante da morte do prefeito Celso Daniel”.

Segundo a revista, apesar da morte de Celso Daniel ser considerada um “crime comum”, as informações fornecidas por Marcos Valério fizeram o promotor Roberto Wider Filho encaminhar o depoimento a um grupo do Ministério Público e iniciar uma investigação sigilosa.

Veja o vídeo:

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