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Déjà vu: Contar não é Bernal, mas é quase

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Por Dante Filho

Logo que a a eleição em Mato Grosso do Sul foi para o segundo turno, mantendo dois apoiadores do presidente Bolsonaro no páreo, Capitão Contar e Eduardo Riedel, surgiu nas redes sociais a imagem do ex-prefeito Alcides Bernal se transmudando no rosto do primeiro, como se a comparação fosse lembrada como uma advertência ao eleitor do desastre administrativo que Alcides Bernal representou para Campo Grande num passado relativamente distante. 

Certamente, a lembrança de Bernal tem mais a ver com a surpresa eleitoral do que com a semelhança de personalidades. Tirando este fato, é preciso dizer que Contar não é administrador reconhecido. As línguas ferinas dizem que quem comanda sua vida nos mínimos detalhes é sua esposa, Iara Diniz, uma publicitária e empresária enrolada em mais de 50 processos judiciais, que começou a vida como vendedora de anúncios de jornais e tornou-se publicitária bem-sucedida amarrando contratos com prefeituras e órgãos públicos ao longo dos últimos anos. 

Iara também tentou a carreira política nesta eleição, candidatou-se para a Assembléia Legislativa, mas não chegou lá. Muitos parlamentares reeleitos disseram “ufa!”.

Contar sempre pertenceu a uma família tradicional, tornou-se militar, estudou no ITA, casou-se com a filha do ex-deputado e ex-Conselheiro do Tribunal de Contas, Cícero de Souza, que lhe franqueou a administração de uma fazenda, algo que não deu certo por falta de aptidão com o negócio, principalmente depois que o casamento vantajoso foi desfeito. Coisas da vida. 

Contar descobriu a vida política com a ascensão do Bolsonarismo, entrando na onda com seu volumoso corpo, sua pinta de galã de filme de ação, conseguindo assim ter sido eleito deputado estadual. Na Assembléia Legislativa de MS tornou-se conhecido pela sua capacidade de arrumar treta, combatendo ferozmente, com apoio da senadora Soraya Thronicke, o governador Reinaldo Azambuja. Fez denúncias, propôs CPIs, mas nada adiantou.

Assim, Contar criou fama de deputado combativo de uma causa só, o rei da carteirada, sem conseguir dar nenhum brilho à sua carreira, com foco em temas pontuais, nada que pudesse mover um milímetro o processo de desenvolvimento econômico e social de Mato Grosso do Sul. 

Ideologicamente, aliou-se à turma conservadora da extrema-direita, que ostensivamente se coloca como seres puros, incorruptíveis e não admitem qualquer críticas que façam pairar dúvidas nessa imagem moral santificada. 

Um exemplo desse comportamento aguerrido viu-se num dos debate do primeiro turno no qual Eduardo Riedel ousou lembrar que a esposa de Contar respondia a inúmeras ações judiciais. O candidato tucano foi cercado pelo grupo de Iara Diniz e recebeu xingamentos agressivos, como se aquelas informações fossem uma grave agressão à família. Foi assustador. 

Enfim, é possível que a disputa entre Contar e Riedel seja renhida, embora o presidente Jair Bolsonaro tenha advertido e comunicado que manterá posição neutra nessa disputa. Tomara.

Pesam contra Contar a agressividade de seus apoiadores, a prepotência de sua esposa e o fato dele nunca ter administrado nada na vida que pudesse se comparar a um governo estadual. 

Numa campanha eleitoral como essa deveria pesar estes fatores e os apoios que cada um poderá granjear ao longo da campanha. No primeiro turno a diferença de votos entre os dois foi de 1%, ou seja, nada. 

Veremos como será a partir de agora, no qual a sociedade, mais moderada e sem o peso da polarização local, vai escolher seu chefe do Executivo. 

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